Uma chuva torrencial estendia-se sobre São Paulo
naquela noite. A garota desceu do taxi de mau-humor, como de costume. Sua
cabeça latejava levemente nas têmporas e ela contava os segundos para poder
sacar um tubo de câncer de seu bolso. O bar fracamente iluminado fedia a esgoto
e provavelmente seus clientes seriam ratos da pior espécie, mas Jéssica estava
disposta a arriscar tudo pela matéria. No telefone, seu informante foi bem
especifico ao mencionar um “grande furo”. Talvez ele quisesse mencionar a
enorme furada que tinha lhe metido ao
trazê-la até este fim de mundo. Jéssica avançou, pisando em algumas poças de
água barrenta pelo caminho e seguiu pela escura viela ao lado do bar. A chuva
cobria sua visão, criando uma espécie de neblina ao encontrar o calor do asfalto.
Caminhando lentamente, a garota chega ao seu destino. Um depósito abandonado de
containers de lixo, nos fundos do bar. Encostado a uma das paredes,
protegendo-se da chuva, estava ele. Osmar era um poço de repugnância e
corrupção, um homem deplorável do qual Jéssica não possuía outro sentimento que
não fosse nojo. A fumaça do inspetor saía de sua boca como uma velha chaminé
mofada e quando o homem a viu tornou-se ainda mais pútrida. Seus lábios
curvaram-se em um sorriso desigual, exibindo seus dentes amarelados e seu
hálito nauseante. Jéssica parou em frente ao homem, trocando o peso do corpo
entre seus pés.
– Diz logo, tenho o que fazer. O que tem pra mim? –
Perguntou a garota, claramente desgostosa de estar naquele lugar.
– Calma docinho... Tudo há seu tempo. Não quer entrar
no bar e tomar alguma coisinha? – Osmar lançou um olhar lascivo para o corpo de
Jéssica, desejando cada pedaço para si. A garota recuou cautelosa.
– Nojento e grosso como sempre, não é mesmo? Você sabe
muito bem que o máximo que posso arranjar pra você é o dinheiro exorbitante que
me cobra por informações atrasadas e sem precisão! – Exclamou Jéssica,
transtornada. Osmar desencostou-se da parede, adquirindo uma expressão mais
séria.
– Ok, vamos lá. Hoje chegou à delegacia uma moça que
mais parecia um graveto. Devia ter anorexia ou sei lá o que. Mas é aqui que
fica interessante... – Osmar aproximou-se de Jéssica e a encurralou em uma
parede – Parece que ela tinha sido sequestrada pelo tal do “Palhaço”. Sabe,
aquele “palhaço” que você vive escrevendo. Enfim, ela conseguiu escapar, deve
ter enganado o maldito ou algo parecido.
– MERDA! – Exclamou Jéssica, obviamente irritada.
Agarrou Osmar pelo colarinho de seu paletó velho, desejando mais informações –
Eu quero tudo! Tudo que tiver. Vou publicar com o que você me dar! – Gritou
Jéssica em plenos pulmões. Terminou ofegante, soltando o paletó do inspetor
antes de perceber que suas mãos se encontravam em suas pernas.
– É docinho... Mas para isso funcionar, vou precisar
de algo a mais... – As mãos de Osmar eram ásperas e suadas. O asco tomou conta
do pensamento de Jéssica Qacker e nem mesmo a matéria lhe traria a realidade
novamente. Sentiu a bile voltar em sua garganta antes mesmo de sacar o spray de
pimenta que carregava no bolso do casaco. A reação do inspetor foi claramente
lenta e ele apenas conseguiu exibir sua surpresa – Mas o que...?
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