quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Prólogo - Jéssica Qacker

Uma chuva torrencial estendia-se sobre São Paulo naquela noite. A garota desceu do taxi de mau-humor, como de costume. Sua cabeça latejava levemente nas têmporas e ela contava os segundos para poder sacar um tubo de câncer de seu bolso. O bar fracamente iluminado fedia a esgoto e provavelmente seus clientes seriam ratos da pior espécie, mas Jéssica estava disposta a arriscar tudo pela matéria. No telefone, seu informante foi bem especifico ao mencionar um “grande furo”. Talvez ele quisesse mencionar a enorme furada que tinha lhe metido ao trazê-la até este fim de mundo. Jéssica avançou, pisando em algumas poças de água barrenta pelo caminho e seguiu pela escura viela ao lado do bar. A chuva cobria sua visão, criando uma espécie de neblina ao encontrar o calor do asfalto. Caminhando lentamente, a garota chega ao seu destino. Um depósito abandonado de containers de lixo, nos fundos do bar. Encostado a uma das paredes, protegendo-se da chuva, estava ele. Osmar era um poço de repugnância e corrupção, um homem deplorável do qual Jéssica não possuía outro sentimento que não fosse nojo. A fumaça do inspetor saía de sua boca como uma velha chaminé mofada e quando o homem a viu tornou-se ainda mais pútrida. Seus lábios curvaram-se em um sorriso desigual, exibindo seus dentes amarelados e seu hálito nauseante. Jéssica parou em frente ao homem, trocando o peso do corpo entre seus pés.

– Diz logo, tenho o que fazer. O que tem pra mim? – Perguntou a garota, claramente desgostosa de estar naquele lugar.

– Calma docinho... Tudo há seu tempo. Não quer entrar no bar e tomar alguma coisinha? – Osmar lançou um olhar lascivo para o corpo de Jéssica, desejando cada pedaço para si. A garota recuou cautelosa.
  
– Nojento e grosso como sempre, não é mesmo? Você sabe muito bem que o máximo que posso arranjar pra você é o dinheiro exorbitante que me cobra por informações atrasadas e sem precisão! – Exclamou Jéssica, transtornada. Osmar desencostou-se da parede, adquirindo uma expressão mais séria.

– Ok, vamos lá. Hoje chegou à delegacia uma moça que mais parecia um graveto. Devia ter anorexia ou sei lá o que. Mas é aqui que fica interessante... – Osmar aproximou-se de Jéssica e a encurralou em uma parede – Parece que ela tinha sido sequestrada pelo tal do “Palhaço”. Sabe, aquele “palhaço” que você vive escrevendo. Enfim, ela conseguiu escapar, deve ter enganado o maldito ou algo parecido.

– MERDA! – Exclamou Jéssica, obviamente irritada. Agarrou Osmar pelo colarinho de seu paletó velho, desejando mais informações – Eu quero tudo! Tudo que tiver. Vou publicar com o que você me dar! – Gritou Jéssica em plenos pulmões. Terminou ofegante, soltando o paletó do inspetor antes de perceber que suas mãos se encontravam em suas pernas.


– É docinho... Mas para isso funcionar, vou precisar de algo a mais... – As mãos de Osmar eram ásperas e suadas. O asco tomou conta do pensamento de Jéssica Qacker e nem mesmo a matéria lhe traria a realidade novamente. Sentiu a bile voltar em sua garganta antes mesmo de sacar o spray de pimenta que carregava no bolso do casaco. A reação do inspetor foi claramente lenta e ele apenas conseguiu exibir sua surpresa – Mas o que...?

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