Lúcio Moraes
Lúcio
ofegava. Estava perdido, cansado e sua mente girava em lembranças. Fugira para
seu closet, o único lugar naquele maldito complexo que lhe trazia segurança.
Lembrava-se de seu pai, na noite que morreu. O velho dizia palavras cortantes
para o filho, em uma discussão acalorada nos escritórios do Complexo Moraes.
Álvaro Moraes era um homem integro, cuja reputação era impecável e não tolerava
falhas. Seu filho era um diamante a ser lapidado, que com frequência o pai
fazia questão de apontar os vértices falhos de sua composição.
–
É tudo sua culpa! Nada teria acontecido se não fosse sua inconveniência! –
Reclamava o velho, parando apenas para tossir. O vício em cigarros finalmente
cobrava seu preço – Se não fosse sua intromissão impertinente na reunião,
poderíamos ter fechado o negócio com os chineses! Mas não... Tudo sempre tem
que ser do seu jeito, não é Lúcio? – Lúcio estava sentado na cadeira, apenas
ouvindo os comentários do pai. Seu rosto estava vermelho em ira – E digo mais.
Não é de hoje que você só apronta! Vive fazendo as mesmas besteiras, cometendo
as mesmas falhas. Sempre foi sua culpa Lúcio, sempre!
–
A culpa foi sua, seu velho parasita! Um pai ausente, que tudo que sabia era
bater nos filhos e exclamar sua onipotência! Acha que é um deus por que montou
um negócio grande no centro de São Paulo. Mamãe morreu por tua culpa, por sua
ausência! – Exclamou Lúcio, levantando-se e derrubando a cadeira – Tudo é por
sua culpa, mas você não admite! Você nunca vai ser meu pai!
Álvaro
encarou o filho incrédulo. Sua mão afastou-se da grande mesa do escritório,
buscando a gaveta lateral.
–
Acha que me culpando vai afastar a culpa de seus ombros é? Lúcio, eu fiz de
tudo pra lhe dar uma boa educação. E tudo que você me fez, desde criança foi
isso. Responda-me Lúcio, o que você me trouxe? – Lúcio permaneceu calado, seus
punhos cerrados – Tudo que trouxe foram desgraças na minha vida! Você é uma
pária Lúcio, uma ovelha negra! Deveria ter lhe enviado ao reformatório depois
do que aconteceu... – Lúcio apenas aguardava esta frase para pular no pescoço
do pai. Seu punho em riste, pronto para espancar o velho. Álvaro retirou da
gaveta um revólver, que havia pertencido ao avô de Lúcio. Utilizando-se de sua
força superior, Lúcio lutou pela posse da arma com o pai – Você nunca vai ter
essa companhia Lúcio! Você não é ninguém! Nunca foi e desde que você mat... – A
arma finalmente disparou. O sangue de Álvaro espalhou-se pela janela logo
atrás, tingindo o vidro de um tom carmesim. Lúcio assistia o corpo de seu
progenitor cair inerte sobre a mesa do escritório.
Não
demorara em arquitetar seu plano. Alterou boa parte da cena e escreveu uma
carta de suicídio, falsificando a letra de seu pai. Limpara qualquer local que
tenha tocado, evitando assim contaminar a cena com suas impressões digitais.
Estava feito e o velho pagara pelo que falara.
–
Vamos ver se não vou governar seu império, velho... – Disse, antes de sair da
sala de reuniões.
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