segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Capítulo XV

Lúcio Moraes


Lúcio ofegava. Estava perdido, cansado e sua mente girava em lembranças. Fugira para seu closet, o único lugar naquele maldito complexo que lhe trazia segurança. Lembrava-se de seu pai, na noite que morreu. O velho dizia palavras cortantes para o filho, em uma discussão acalorada nos escritórios do Complexo Moraes. Álvaro Moraes era um homem integro, cuja reputação era impecável e não tolerava falhas. Seu filho era um diamante a ser lapidado, que com frequência o pai fazia questão de apontar os vértices falhos de sua composição.

– É tudo sua culpa! Nada teria acontecido se não fosse sua inconveniência! – Reclamava o velho, parando apenas para tossir. O vício em cigarros finalmente cobrava seu preço – Se não fosse sua intromissão impertinente na reunião, poderíamos ter fechado o negócio com os chineses! Mas não... Tudo sempre tem que ser do seu jeito, não é Lúcio? – Lúcio estava sentado na cadeira, apenas ouvindo os comentários do pai. Seu rosto estava vermelho em ira – E digo mais. Não é de hoje que você só apronta! Vive fazendo as mesmas besteiras, cometendo as mesmas falhas. Sempre foi sua culpa Lúcio, sempre!

– A culpa foi sua, seu velho parasita! Um pai ausente, que tudo que sabia era bater nos filhos e exclamar sua onipotência! Acha que é um deus por que montou um negócio grande no centro de São Paulo. Mamãe morreu por tua culpa, por sua ausência! – Exclamou Lúcio, levantando-se e derrubando a cadeira – Tudo é por sua culpa, mas você não admite! Você nunca vai ser meu pai!

Álvaro encarou o filho incrédulo. Sua mão afastou-se da grande mesa do escritório, buscando a gaveta lateral.


– Acha que me culpando vai afastar a culpa de seus ombros é? Lúcio, eu fiz de tudo pra lhe dar uma boa educação. E tudo que você me fez, desde criança foi isso. Responda-me Lúcio, o que você me trouxe? – Lúcio permaneceu calado, seus punhos cerrados – Tudo que trouxe foram desgraças na minha vida! Você é uma pária Lúcio, uma ovelha negra! Deveria ter lhe enviado ao reformatório depois do que aconteceu... – Lúcio apenas aguardava esta frase para pular no pescoço do pai. Seu punho em riste, pronto para espancar o velho. Álvaro retirou da gaveta um revólver, que havia pertencido ao avô de Lúcio. Utilizando-se de sua força superior, Lúcio lutou pela posse da arma com o pai – Você nunca vai ter essa companhia Lúcio! Você não é ninguém! Nunca foi e desde que você mat... – A arma finalmente disparou. O sangue de Álvaro espalhou-se pela janela logo atrás, tingindo o vidro de um tom carmesim. Lúcio assistia o corpo de seu progenitor cair inerte sobre a mesa do escritório.

Não demorara em arquitetar seu plano. Alterou boa parte da cena e escreveu uma carta de suicídio, falsificando a letra de seu pai. Limpara qualquer local que tenha tocado, evitando assim contaminar a cena com suas impressões digitais. Estava feito e o velho pagara pelo que falara.


– Vamos ver se não vou governar seu império, velho... – Disse, antes de sair da sala de reuniões.

0 comentários:

Postar um comentário