Palhaço
Esta é uma ótima noite, não acha? O vento está
agradável? – Perguntei para meu hóspede, um garoto tão simpático – Esse céu
estrelado, tão romântico. Adoraria estar com seu amor agora não é?
Minha vítima acordava só agora. Eles sempre são tão
lentos... Percebia que estava amarrado e amordaçado, de ponta-cabeça. De fato,
este é meu melhor número. No alto da cobertura, um homem e seu maior medo. E
como foi difícil carregar este grandalhão até aqui em cima e amarra-lo na
cadeira no parapeito do prédio. Sorri ao ver minha façanha, uma pena que ele
não pode notar minha felicidade. A avenida paulista seguia tranquilamente sua
rotina movimentada. As pessoas conversavam alegremente, carros passeavam, desfilando
com os últimos modelos de futilidades. E aqui estou eu, encarando meu convidado
de honra para o grand finale. O jovem me encarava com o mesmo olhar assustado.
Suspirei, cansado, retirando sua mordaça.
– Não adianta gritar mocinho. Daqui ninguém te escuta.
Ouviram?! – Perguntei, retoricamente – Entendeu? Agora vamos ao meu show, é por
isso que está aqui não é mesmo Alexandre? Ah! Desliguei a chave geral do
prédio... Alguns hóspedes frustrados por não poderem transar com a luz acesa
não devem atrapalhar meu plano perfeito não é mesmo?
– Palhaço! Me solta daqui seu bastardo de uma figa! –
Reduzia-se o garoto a maldições verbais. Encarei apenas como elogios, fazendo
um gesto cortês – Você tá querendo arruinar a carreira do senhor Lúcio! Se eu
me soltar daqui eu te faço em picadinhos!
– Olha mocinho, se eu fosse você eu pensava muito bem
antes de abrir a boca de novo. Você me faz em picadinhos, mas eu te faço em
maçaroca – Brinquei, mostrando para ele o abismo ao lado. Vi que o interior de
sua alma tremeu de medo e deliciei-me deste fato. Esta noite prometia...
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