sábado, 28 de dezembro de 2013

Capítulo VI

Lázaro Pinheiro


Lázaro recebera a mensagem de Jair pouco antes de começar a se embriagar. O apartamento imundo a seus pés rodava lentamente enquanto a imagem a sua frente o forçava a se concentrar. Um porta-retratos quebrado e uma imagem nublada. Seria ele, abraçando aquela bela mulher? Não... Aquele homem estava morto, enterrado com todas as lamentações de sua vida. Lázaro sorriu ao ver os comprimidos, havia se tornado uma rotina agradável. Dois comprimidos em sua mão. Desciam pela garganta acompanhados de algum uísque vagabundo. O mundo girava a seu redor, fantasmas de seu passado ecoando em sua mente.

– Você é mesmo um inútil, não é? – Disse a si mesmo, mas sua voz era diferente. Era suave, feminina. Estranhou o acontecimento, encarando a garrafa e a fotografia apagada na mesa de centro.

Levantou-se com dificuldade, buscando o celular que estava sobre a pia da cozinha. Um, dois passos. Foi ao chão. Apenas gostaria de ficar ali, ser esquecido. Alguns dias depois talvez uma ou duas aranhas fossem fazer-lhe companhia, tecendo um manto de teias. Depois, vermes comeriam sua carne e a existência de Lázaro Pinheiro seria apagada. Lázaro cerrou os olhos e forçou sua ascensão. Cambaleando, finalmente chegou ao celular, onde a mensagem de Jair estava anunciada. Suspirou mais uma vez, tentando encontrar um objetivo na vida. Não percebia, mas lágrimas escorriam por sua face. Novamente, a voz veio de encontro a ele.

– Vai ficar se lamentando até quando? Você sabe bem que é um inútil, e que é tudo culpa sua... – Dizia a voz, acusatória – Toda vez que se levanta da cama, percebe que é um lixo patético. Seria melhor se colocasse a arma na boca e puxasse o gatilho. O que acha? Uma boa ideia não é mesmo?

– Cala boca porra! – Urrou Lázaro para o nada. O apartamento vazio pareceu ranger em resposta – Por que tudo isso acontece só comigo...


– Você sabe bem o por que... – Disse a voz, logo atrás dele. Lázaro se virou a tempo de perceber um vulto feminino. Um aperto forte em seu coração o nocauteou imediatamente. Acordou horas mais tarde, com um celular vibrando em desespero e um vidro de Strezolazepan em sua mão. Riu ao ler a indicação de não utilizar este medicamento com bebidas alcoólicas. Vestiu seu sobretudo e saiu para a cidade cinzenta, enquanto uma lenta garoa acompanhava seus passos.

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