Lázaro Pinheiro
Lázaro recebera a mensagem de Jair pouco antes de
começar a se embriagar. O apartamento imundo a seus pés rodava lentamente
enquanto a imagem a sua frente o forçava a se concentrar. Um porta-retratos
quebrado e uma imagem nublada. Seria ele, abraçando aquela bela mulher? Não...
Aquele homem estava morto, enterrado com todas as lamentações de sua vida.
Lázaro sorriu ao ver os comprimidos, havia se tornado uma rotina agradável.
Dois comprimidos em sua mão. Desciam pela garganta acompanhados de algum uísque
vagabundo. O mundo girava a seu redor, fantasmas de seu passado ecoando em sua
mente.
– Você é mesmo um inútil, não é? – Disse a si mesmo,
mas sua voz era diferente. Era suave, feminina. Estranhou o acontecimento,
encarando a garrafa e a fotografia apagada na mesa de centro.
Levantou-se com dificuldade, buscando o celular que
estava sobre a pia da cozinha. Um, dois passos. Foi ao chão. Apenas gostaria de
ficar ali, ser esquecido. Alguns dias depois talvez uma ou duas aranhas fossem
fazer-lhe companhia, tecendo um manto de teias. Depois, vermes comeriam sua
carne e a existência de Lázaro Pinheiro seria apagada. Lázaro cerrou os olhos e
forçou sua ascensão. Cambaleando, finalmente chegou ao celular, onde a mensagem
de Jair estava anunciada. Suspirou mais uma vez, tentando encontrar um objetivo
na vida. Não percebia, mas lágrimas escorriam por sua face. Novamente, a voz
veio de encontro a ele.
– Vai ficar se lamentando até quando? Você sabe bem
que é um inútil, e que é tudo culpa sua... – Dizia a voz, acusatória – Toda vez
que se levanta da cama, percebe que é um lixo patético. Seria melhor se
colocasse a arma na boca e puxasse o gatilho. O que acha? Uma boa ideia não é
mesmo?
– Cala boca porra! – Urrou Lázaro para o nada. O
apartamento vazio pareceu ranger em resposta – Por que tudo isso acontece só
comigo...
– Você sabe bem o por que... – Disse a voz, logo atrás
dele. Lázaro se virou a tempo de perceber um vulto feminino. Um aperto forte em
seu coração o nocauteou imediatamente. Acordou horas mais tarde, com um celular
vibrando em desespero e um vidro de Strezolazepan
em sua mão. Riu ao ler a indicação de não utilizar este medicamento com
bebidas alcoólicas. Vestiu seu sobretudo e saiu para a cidade cinzenta,
enquanto uma lenta garoa acompanhava seus passos.
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