segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ATO III - Capítulo XI

Lázaro Pinheiro


O primeiro som que Lázaro ouviu foi o de sirenes. O ensurdecedor barulho penetrava em seus tímpanos, fazendo-o ajoelhar-se no chão e implorar pelo fim daquilo. Arrastou-se pelo luxuoso apartamento, mirando o relógio que pendia na parede. Cinco e meia da madrugada. Sua cabeça girava e seus olhos enxergavam versões distorcidas de cada passo. Lázaro havia bebido novamente na noite anterior e os remédios criaram um efeito colateral. Agora caminhava com dificuldade até a porta do apartamento. Girou a maçaneta, encontrando no hall uma garota em trajes peculiares. Seus longos cabelos castanhos estendiam-se até as costas e uma beleza exótica era intensificada por seus belíssimos olhos castanhos. Seu corpo voluptuoso estava na porta do apartamento à frente e a garota levava as mãos aos ouvidos buscando um fim para o som estridente. Ela parecia perdida naquele lugar. Lázaro arrastou-se até ela, buscando entender o que acontecia.

– Olá... Meu nome é Lázaro, detetive Lázaro Pinheiro – Mentiu o ex-investigador, levemente inebriado pelo corpo da mulher – O que diabos está acontecendo por aqui?

Jéssica ergueu a cabeça em resposta. Seus olhos lacrimejavam e seus ouvidos apitavam como trens em partida. A última coisa que precisaria neste momento seria um investigador em seu pé. O som havia parado, mas não a dor de cabeça.

– Não sei... Parece que veio do andar de cima! – Gritou Jéssica, ainda não acostumada ao silencio provocado pelo fim das sirenes de incêndio – A propósito, Jéssica Qacker, jornalista investigativa – Lázaro franziu o cenho perante a afirmação. A bile subiu por seu estomago enquanto lembrava-se das reportagens da jovem no tabloide. Ajudou-a ficar de pé e subiram juntos para o andar superior. Os dois saíram do elevador e se depararam com um apartamento em cinzas.

Alguns homens do corpo de bombeiros ainda saiam do lugar enquanto Lázaro e a jornalista procuravam suas maneiras de entrar no apartamento. O lugar trazia resquícios de brasas, porém tudo que se via eram a escuridão dos moveis queimados pelas chamas. Lázaro se aproximou do cadáver, sendo seguido por Jéssica. Encarou a anatomia carbonizada, ainda amarrada por correntes a cadeira. Sentiu o cheiro de gasolina ainda permeando a carne queimada e a ardência de seus olhos aumentou. Coçou seu bigode, confuso. Jéssica percorria o apartamento, lamentando não ter pegado sua câmera ao sair do quarto.

– Primeiro uma morreu sem sangue. Agora, queimada. Aonde esse cara quer chegar afinal? – Questionou Jéssica, pasma com a atrocidade. Lázaro ignorou o comentário, seguindo a investigar o restante da cena.

Mais alguns passos e encontrou um galão com um cheiro forte. Gasolina. Notou também que o sistema de incêndio fora ativado tardiamente, encerrando as esperanças daquela mulher. Procurava por algum sinal, uma assinatura. Sua cabeça ainda latejava e a visão era atormentada pelo horror presenciado.

– Procurando isso daqui? – Perguntou Jéssica, apontando para uma pequena bola de plástico com os dizeres “Por quê?”. Suspirou, aproximando-se da jornalista – Sabe, você poderia dar um depoimento para o meu jornal né? Sabe como é... – Começou Jéssica.

– E você poderia fechar essa matraca. Uma mulher morreu aqui, pelo menos haja com dignidade – Devolveu Lázaro, ríspido. Seu humor estava decadente e aquele cenário não ajudava em nada. Jéssica deu de ombros, ignorando o comentário do homem e arrumando seu cabelo. Saíra da cena sem que Lázaro notasse, pois o detetive detinha uma parte daquele quebra-cabeça.

Agarrou o objeto, analisando-o. Percebeu que em sua abertura, havia um pequeno pedaço de papel. Em seu conteúdo, uma mensagem.


Há anos foi partido, jamais recuperado. Uma pergunta, nunca uma resposta. Eu a quero, e como quero, e como quero agora a terei. Impeça-me se puder ou então aproveite o show.

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