Lázaro Pinheiro
O
primeiro som que Lázaro ouviu foi o de sirenes. O ensurdecedor barulho
penetrava em seus tímpanos, fazendo-o ajoelhar-se no chão e implorar pelo fim
daquilo. Arrastou-se pelo luxuoso apartamento, mirando o relógio que pendia na
parede. Cinco e meia da madrugada. Sua cabeça girava e seus olhos enxergavam
versões distorcidas de cada passo. Lázaro havia bebido novamente na noite
anterior e os remédios criaram um efeito colateral. Agora caminhava com
dificuldade até a porta do apartamento. Girou a maçaneta, encontrando no hall uma garota em trajes peculiares.
Seus longos cabelos castanhos estendiam-se até as costas e uma beleza exótica
era intensificada por seus belíssimos olhos castanhos. Seu corpo voluptuoso estava
na porta do apartamento à frente e a garota levava as mãos aos ouvidos buscando
um fim para o som estridente. Ela parecia perdida naquele lugar. Lázaro
arrastou-se até ela, buscando entender o que acontecia.
–
Olá... Meu nome é Lázaro, detetive Lázaro Pinheiro – Mentiu o ex-investigador,
levemente inebriado pelo corpo da mulher – O que diabos está acontecendo por
aqui?
Jéssica
ergueu a cabeça em resposta. Seus olhos lacrimejavam e seus ouvidos apitavam
como trens em partida. A última coisa que precisaria neste momento seria um
investigador em seu pé. O som havia parado, mas não a dor de cabeça.
–
Não sei... Parece que veio do andar de cima! – Gritou Jéssica, ainda não
acostumada ao silencio provocado pelo fim das sirenes de incêndio – A
propósito, Jéssica Qacker, jornalista investigativa – Lázaro franziu o cenho
perante a afirmação. A bile subiu por seu estomago enquanto lembrava-se das
reportagens da jovem no tabloide. Ajudou-a ficar de pé e subiram juntos para o
andar superior. Os dois saíram do elevador e se depararam com um apartamento em
cinzas.
Alguns
homens do corpo de bombeiros ainda saiam do lugar enquanto Lázaro e a
jornalista procuravam suas maneiras de entrar no apartamento. O lugar trazia
resquícios de brasas, porém tudo que se via eram a escuridão dos moveis
queimados pelas chamas. Lázaro se aproximou do cadáver, sendo seguido por Jéssica.
Encarou a anatomia carbonizada, ainda amarrada por correntes a cadeira. Sentiu
o cheiro de gasolina ainda permeando a carne queimada e a ardência de seus
olhos aumentou. Coçou seu bigode, confuso. Jéssica percorria o apartamento,
lamentando não ter pegado sua câmera ao sair do quarto.
–
Primeiro uma morreu sem sangue. Agora, queimada. Aonde esse cara quer chegar
afinal? – Questionou Jéssica, pasma com a atrocidade. Lázaro ignorou o
comentário, seguindo a investigar o restante da cena.
Mais
alguns passos e encontrou um galão com um cheiro forte. Gasolina. Notou também
que o sistema de incêndio fora ativado tardiamente, encerrando as esperanças
daquela mulher. Procurava por algum sinal, uma assinatura. Sua cabeça ainda
latejava e a visão era atormentada pelo horror presenciado.
–
Procurando isso daqui? – Perguntou Jéssica, apontando para uma pequena bola de
plástico com os dizeres “Por quê?”. Suspirou, aproximando-se da jornalista –
Sabe, você poderia dar um depoimento para o meu jornal né? Sabe como é... –
Começou Jéssica.
–
E você poderia fechar essa matraca. Uma mulher morreu aqui, pelo menos haja com
dignidade – Devolveu Lázaro, ríspido. Seu humor estava decadente e aquele
cenário não ajudava em nada. Jéssica deu de ombros, ignorando o comentário do
homem e arrumando seu cabelo. Saíra da cena sem que Lázaro notasse, pois o
detetive detinha uma parte daquele quebra-cabeça.
Agarrou
o objeto, analisando-o. Percebeu que em sua abertura, havia um pequeno pedaço
de papel. Em seu conteúdo, uma mensagem.
Há anos foi partido, jamais recuperado. Uma pergunta,
nunca uma resposta. Eu a quero, e como quero, e como quero agora a terei.
Impeça-me se puder ou então aproveite o show.
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