segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Capítulo XX

Lázaro Pinheiro


Um tiro na perna. O palhaço caiu, gritando em dor. Alexandre observava a cena enquanto Jéssica corria para verificar se Alexandre estava bem. E então, o Palhaço se levantou. Seu sorriso eterno era intensificado por uma risada maligna, que interrompeu o percurso de Jéssica no meio do caminho. Arrancando a máscara, finalmente o palhaço se revelou. Lúcio Moraes, o magnata. Alexandre encarava seu patrão, atônito. Lúcio respirava com dificuldade, mas ainda encarava Lázaro como em um duelo.

– Eu te disse não foi! Somos iguais Lázaro, eu e você! Te disse isso quando te conheci por que reconheço um assassino quando vejo um! Agora você vai me matar e todo mundo vai saber que eu sou o Palhaço! E eu nunca vou ter encontrado o por quê! E vai ser por sua culpa, seu velho presunçoso! – Gritava Lúcio a plenos pulmões, para que Lázaro pudesse lhe ouvir. O velho continuava empunhando sua arma, apenas esperando – Tudo aconteceu em uma noite. Descobri que sou afóbico! Sabe o que significa isso? Não tenho medo! Essa tua arminha aí não me amedronta Lázaro Pinheiro, seu detetive fajuto. E você – Encarando Jéssica – Achou que realmente poderia se promover as minhas custas, sua piranhazinha desqualificada. Uma jornalista de tabloide tentando se vender. Parece-me muito com uma prostituta. Mas não se compara ao assassino ali, com a arma na mão. Eu pesquisei sobre você, senhor Lázaro Pinheiro... – Lúcio andava enquanto falava. O cascalho da cobertura resmungava sobre seus pés – Matou a esposa com um tiro “acidentalmente” – Lúcio encenou com os dedos – É isso mesmo?

– Cale a boca seu assassino! Você vai pra cadeia! – Gritou Lázaro em fúria. Sua mão tremia.

– Não, eu não vou pra cadeia nenhuma. E é por dois motivos, seu completo paspalho! Em primeiro lugar – Disse Lúcio, pigarreando – Estamos no Brasil. Sou poderoso e tenho dinheiro. Logo, não vou. Ponto. Segundo! Eu não posso morrer antes de saber por que ela morreu falando aquilo. Entende agora? Por quê?

– Do que você está falando? Você está louco, completamente louco! – Jéssica afastava-se lentamente, tentando alcançar Alexandre.

– Não, minha querida vagabunda. Não estou louco. Há anos, durante minha infância, cometi um erro. Acidentalmente, minha irmã morreu por conta deste erro e agora descubro que foi pelo medo. As pessoas morreram por seus medos e não por minhas mãos! Se existe um assassino, é aquele homem ali! – Apontou Lúcio para Lázaro – Tudo que eu quero é entender o porquê eu não consigo ter medo... Por que...

– Vou te contar um segredo – Começou Lázaro – Há alguns anos, eu realmente atirei na minha mulher. Durante uma discussão, por algum motivo a arma estava na minha mão. Eu devia estar recarregando ela ou algo do tipo – Lázaro riu, sua visão perdendo-se na memória – Engraçado. A discussão era sobre eu me arriscar no trabalho. Tudo aconteceu tão rápido que mal tive tempo de entender. Amélia gritava e tentou arrancar a arma da minha mão e eu apertei o gatilho tentando puxar. A bala se alojou no coração dela Lúcio. Sim, eu matei minha esposa. E acredite, me culpo por isso até hoje. Mas me culpo ainda mais por não ter ficado na polícia e continuar caçando calhordas como você!

Alexandre já estava solto e ficava ao lado de Jéssica. Seus olhos estavam lacrimejando e ele não conseguia parar de observar Lúcio.

– Você não respondeu minha pergunta! Por que ninguém responde o Palhaço?! – Perguntou Lúcio, fugindo da realidade – É tão difícil!? Por que eu não tenho medo?

– Por que você é único! – Disse uma voz familiar. Alexandre havia se movido para trás de Jéssica e agora abraçava seu pescoço, em um estrangulamento controlado – Mais um movimento e o pescoço dela já era! – Gritou Alexandre para Lázaro. O policial xingou-se por ser tão descuidado – Senhor Lúcio, fiz tudo direitinho? Eu não podia... Eu nunca podia imaginar que o senhor era ele... Se tivesse me contado antes, poderia ajudar senhor...

Uma curva maligna estendia-se no rosto de Lúcio. Virara o jogo contra o ex-investigador e agora possuía o poder em suas mãos.

– Viu só Lázaro, contemple minha vitória. Não foi tão difícil dizer a resposta, não é Alexandre. Sabe Lázaro, o mundo precisa de mais pessoas como ele. Pessoas que sabem seu lugar! – Lúcio gargalhava – Venha Alexandre – Traga-a para a beirada. Deixe que sinta o frescor da madrugada. Nada tema, eu lhe absolvi do medo. Estás curado!

Alexandre arrastou Jéssica, cauteloso pela arma de Lázaro. O detetive apenas calculava.

– O mundo é dos espertos, Lázaro. E nele, eu sou rei! – Gargalhou Lúcio.

Naquela madrugada, um tiro ecoou pela avenida mais movimentada de São Paulo.

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